domingo, 27 de dezembro de 2009

Redenção.

Abri os olhos... Gosto de terra na boca... Vista embaçada... Luz do dia cegando-me.

Dor no peito, dor no corpo.

Levantei e sentei, olhei ao redor, um buraco frio e escuro. Mancha de sangue na farda. Altura do peito.

Susto.

Não quis tocar com medo de estar ferido, cabeça zonza, a mochila com toda a tralha e minha super faca ao lado.

Como caí aqui?
Será que fui capturado?
Será que pulei?

Cabeça vazia.

Olhei pra cima e vi uma ponta de corda, um palmo de corda. Enrolei-a ao punho esquerdo, puxei, consegui erguer meu corpo e o puxei com o braço direito, apoiei meu corpo com as pernas (doloridas) na rocha... Fui subindo, subindo...

Saí da gruta. Senti o Sol do dia, que dia é hoje? Que tempo? Onde?

Perguntas...

Subi.

A corda acabou, alcancei uma parte plana da rocha, rocha perfurada. Vou escalar...

Escalei.

Peito dolorido. Corpo atrofiado. Quanto tempo permaneci ali? E a guerra acabou será?

Alcancei o cume.

FÊNIX.

Sorri pro sol, pro céu, pro vento.

O vento batendo em meu rosto. Liberdade?

Abri minha camisa, verifiquei o suposto ferimento. Nada! Apenas um sinal e o sangue na blusa.

Cortei um pedaço da corda e a trouxe comigo, lembrança da redenção.

Vento forte aqui no cume. Peito nu. Retirei às botas. Dia quente.

De onde vem esse vento? Do norte? Do Sul? Deixei minha super faca com bússola lá embaixo.

Não quero saber de onde vem o vento nem pra onde vai.

Agora daqui de cima vejo o mundo pequeno. Sinto paz. Vou ficar aqui balançando as pernas no cume da montanha. Camisa aberta. Calça dobrada. Pés descalços.

Fim da guerra. Não ouço aviões... Nem explosões.

Acabou.


Eu não estou interessado em nenhuma teoria, nem nessas coisas do oriente, romances astrais. A minha alucinação é suportar o dia-a-dia e meu delírio é a experiência com coisas reais”.



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5 comentários:

  1. fiquei impressionada, porque tem um conto de um autor japonês chamado ryunosuke Akutagawa que fala de uma situação muito parecido num certo trecho. É um clássico da literatura japonesa. Em inglês se chama "Spider's Web.

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  2. Eu não teria deixado a faca, e não teria levado a corda, comigo.

    Questão de prioridades, talvez.

    Beijo.

    ℓυηα

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  3. Rapazz...pelo final do texto acho q tu tava numa gruta junto com o Belchior!!
    Ahahahahaha!!
    Abraçossss!

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  4. Da minha redenção, eu também guardo um pedaço da corda. Funciona melhor que a faca e a bússola juntas.
    E acho essa sensação de estar lá em cima, sentindo o vento sem se preocupar de onde ele vem... uma bênção!

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  5. Caramba....Belchiorrrrrrrrrrrrrrr...que coisa linda !!!!
    Bom ano pra voce moço bonito, um ano super colorido...carregadinho de ternura e PAZ!!!

    Beijos ( num posto nada, mas sempre te leio, rs )

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