segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Encontro.

Às vezes o vemos brilhando, dali de cima é Rei, senhor dos senhores, comanda o jogo com maestria, sempre sabe o que fazer e o que dizer, mas, o mais importante, não enxergamos, sua verdadeira face...

“Prazer em conhecer, adivinhem meu nome!” Ele grita.

Dos tormentos.
Das dores.
Desilusões.

Tentando se conectar ele abusa das flores, diz que flor é um ótimo artifício pra esconder algo podre que há dentro de nós.

Flores e dores, par ideal.

Na ponta de um iceberg, próximo a um abismo, no alto de um galho ele ora.

Pede pela vida lhe tirada tão cedo. Ele a quer de volta.

“Voltem, devolvam, tragam o que é meu!” Ele chora.

Na sua altivez de sempre, seu olhar certo de quem nunca vacila ele segue.

Julga.
Instrui.
Determina.

No silêncio da sua solidão ele renova. Joga o az. Faz a canastra.

No dado é seis na certa.

Ninguém entende sua dor. Dor de um homem só.

“Um dia chegará minha vez, devolverei na mesma moeda cada olhar atirado contra mim” Ele jura.

Vamos o conhecendo, a cada dia, a cada passada por um espelho... Quando o encontrar na próxima vez, não olhe apenas, sinta-o. Ele estará ali.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Redenção.

Um serrote dá... Talvez sobre.
Não quero elétrica não, elétrica é fria... Passa rápido, corta certo e a gente nem vê,

Quero um serrote mesmo, manual, quero suar sobre minha obra. Pingar sal na veia vermelha da madeira nova, recente.

Quero destruir.
Quero cortar.
Despedaçar.

Quero fazer tudo virar pó!

Minha obra prima não terá nome, nem forma, nem cor.

Vou serrar, serrar e serrar. Rir do serrote cortando com gosto. Machucando. Sangrando a seiva. Serei o melhor destruidor de coisas recentes.

Assassino do atual.

Depois das peças cortadas, vou sentar e admirar minha obra. Um amontoado de peças cortadas, vários formatos, cilíndricos e quadrados.

Ah! Serrote que serra.

Tome meu suor. Deixe-me fazer parte de você agora, nesse momento só nosso.

Eu, pingando na sua carne recém descoberta, serrote amolado, corte cirúrgico.

Agora aqui sentado, curtindo minha paz te vejo em pedaços.

Estou feliz hoje! Acordei numa alegria só. Por isso aqui vai minha declaração de amor.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Nosso frio.

E eu com duas calças, uma Jeans, outra não, esta ta por baixo de tudo, inclusive da meia.
Não! Não é exagero, ta gelado, minha lambreta não tem ar quente, o joelho reclama antes de dormir.

Tenho até luva daquelas quentes, jaqueta de couro, só não tenho cachecol. Preciso de um.

Ta frio meu! Frio demais.

Eu vou levando assim, no frio do tempo, no nosso frio também. No frio teu, me esquento calado. Tiro a luva, a jaqueta James Dean, e fico quieto, procurando uma fogueira entre nós.

Eu sei que as coisas não são bem assim, ou assado e tal. Mas eu, como o mais falho de todos, não sei agir. Não ajo.

“Veja você, onde é que o barco foi desaguar...”.

Mas eu tenho uma surpresa...

Trouxe uma corda aqui comigo, ela coube no bolso da jaqueta, amarro a danada ali, naquela mesma estaca lá... Do iglu. Amarro bem amarrado, com o nó dos navegantes... Lais de Guia?

Amarro o barco, ele não deságua mais, a gente não passa frio e tudo fica certo...

Deixa comigo, vou tentar ta?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Festa louca de um homem só

Com esse martelo pesado, vai enfiando a estaca. Agora firme, forte e profunda, pode armar sua barraca.

Gosta do vento, mas ele não pode levar sua vida, não agora.

Tendo apenas essa barraca, firmando ela bem, não terá problemas, não por enquanto.

Barraca armada. Cobertor no sol, tirando a poeira. Óculos no jeito. Tudo pronto pra festa começar.

Festa que desinteressa. Festa que ninguém sabe. Festa de um só.

Festa de um só por motivos óbvios. A barraca citada é um iglu, aquela que só cabe um.

Festa louca de um homem só.

Ele e seu martelo de firmar estacas.

A gente passa e não entende o motivo daquela festa toda.

Festa pelo sol matador de mofo.
Festa pela madeira conseguida, madeira que alimenta na guerra contra o frio.
Festa pelo liquido quente na manhã gelada.
Festa pela cola conseguida, cola que cola o remendo novo. Hoje não terá aquele zumbido ártico no pé.

É festa!

Martelo fica de fora, ao relento, tem importância estratégica, faz peso no teto da morada. Equilibra a barraca nos ataques do ar em movimento.

Agora quente, reina em paz. Rei do iglu. Caçador de frio. Fincador de estacas.

Agora vamos deixá-lo em paz. É hora de recolher-se... Sumir no universo do seu mundo...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Homeopático.

Duas gotas em cada olho.
Duas gotas em cada narina.

Pelas gotas eu vou.

Pouco como uma gota, mas fazendo o mesmo estrago que elas.

As gotas.

Duas poucas gotas que invadem as narinas, dando cor ao ar respirado, deixando a boca fechada, descansando.

Poucas gotas que fazem tanto.

Olhos que coçam, vermelhos, arranhados... Quem os salvará? As duas poucas gotas.

Os poucos são muitos, muitas vezes.

Pelo pouco das gotas marco meu prumo.

Gotas que de poucas inundam meu quarto na chuva, na goteira do teto que nunca arrumei. Poucas gotas, não arrumadas.

Sendo gota, vou ao fundo das coisas. Perfuro, abro caminho, atinjo a meta, sendo pouco.

Causo estrago.

Gota a gota, clareando, desentupindo... Eu vou.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A velha história que sempre nos contam.

A gente tava quieto aqui na nossa... Chegou gente de fora e tomou tudo.

Como sempre o fazem, chegam e tomam tudo, de todos.

Tomados, nos resta ficar. Calar. Até chorar...

Choremos nós, calados, pra não incomodá-los.

A gente vai levando assim, pelos lados, se nos virem, a gente acena e anda depressa.

Sem pressa!

Vamos levando, pagando pelo nosso ta? É assim mesmo.

Abaixe à cabeça, isso, será melhor.

Pagou o imposto?

Sim! Certinho.

Ufa!

Respondeu ao senso?

Claro!

Que bom.

Votou?

Agorinha mesmo

Como ele mandou?

Aham!

Isso! Vamos indo, estamos no caminho certo.

Tem gente vindo de lá, parecem muitos, devem ser deles...

É, vamos aqui pela trilha, deixe o caminho pra eles...

Aqui ninguém nos vê...

Vamos, não pare, o mundo deles não pode parar.

E blá.. blá.. blá...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

E ele não para de tocar (entre os "triiins")

O telefone ta tocando, tem gente querendo falar, gente querendo contar, gente querendo saber.

Do quê?

Eu vou, mas um pouco de mim vai ficar...

Naquele beijo no rosto, tua face te lembrará.
Naquele palavrão dito, teu ouvido me denunciará.
No meu andar torto, corcunda, atento a tudo, teu olho dirá.

Ficarei aqui, não irei, mesmo indo.

O telefone insiste...
Quem quer saber das coisas? Por que querem saber de tudo?

Para multiplicar?
Para dividir?

Não! Creio que não. Querem apenas dizer, dizer e dizer.

Todos querem colocar pra fora, expulsar, expelir.

Quem quer coloca pra dentro? Quem quer tirar da gente?

Tire o mal daqui! Grite assim. Não diga “alô”

Todos têm razão, todos sabem de tudo um pouco.

Eu não! Sei não! Quero não! Vou não! Hoje não!

O telefone parou...

Pronto!

Acabou!