sexta-feira, 30 de julho de 2010

Pecado

E depois de tudo ainda teve a missa... Hóstia consagrada, vinho do bom, Pai-Nosso e Ave Maria, de mãos dadas é claro.

23h primos.
01h show.
06h Extra(compras)
08h Missa.

É! É isso mesmo... E depois de tudo ainda teve a missa.

Mesma roupa.
Mesma cara.
Mesmo gosto.

Voltando pro mundo nem tudo são flores.

Sem floral, sem gotas, sem sono...

Sono que falta. Dor que mata.

Morte que não chega, nem chegará, é só coisa da cabeça.

Queria poder voltar pra lá...

Ria! Como eu ri.

Não dá?

Que droga... Essa droga toda.

Como será daqui pra diante? Como será lá depois?

Quem será lá?

Não sei se foi pecado ir à missa Domingo de manhã, confesso que não sei... Se pequei.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Fruto seco.

É a herança que deixaram pra gente.

A ganância de quem nada teve.
O desamor de quem nunca foi amado.
A paciência de quem nunca teve um minuto de espera.

É o nosso prêmio por ser fruto do Mal planejado.

Agora colhemos isso, tudo, raiz, mato, tronco, terra... Sem distinção.

Agora a gente sofre.

O criador cada vez mais criador.
O fruto cada vez mais criador.

Fruto que sofre. Herança maldita.

Árvore desenganada. Galhos velhos. Raiz rasa. Deu fruto triste, sem doce, sem gosto, sem carne.

Fruto seco.
Fruto verde.

Amadurecerá? Será?

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Ter, ser e tal.

Nunca gostei muito de pipa.

Tinha a mesma impressão dos passarinhos na gaiola.

Dos peixes do aquário.

Inúmeras vezes... Arranjei confusão na rua...

Gostava de cortar a linha das pipas dos colegas.

“Deixa ir embora” dizia o amigo bobo (eu).

Passarinho a mesma coisa... Sempre quis abrir as gaiolas, nunca tive coragem, coisa que me incomoda até hoje, nunca consegui abrir gaiola.

Esse lance de TER é meio complicado pra mim.

Penso em ter filhos... TER filhos.

Estranho esse TER, vou mudar...

Penso em SER pai, mas como eu serei Pai pensando desse jeito?

Cabeça estranha essa minha.

Mundo estranho esse nosso, mundo doido pra SER pai.

Não vou querer ver meu filho soltando pipa.
Nem criando passarinho.
Nem criando peixe em aquário.

Nem nada...

“Pai chato”... Vou ouvir.

Acho que serei pai chato, na mesma proporção que fui amigo chato na infância.

Amigo chato que corta a linha das pipas.

Pai chato que não deixa o filho criar periquito verde, amarelo, azul e branco, nenhum.

Sou chato.

Que saco.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Grato.

Do ponto oco da gente é que surge o algo bom!

Daquele olhar perdido, que encontra alguém pra tocar.
Daquela frase dita. Que bate e rebate, ricocheteia, parece que erra, mas no alvo toca vitoriosa.

Da leveza de saber ser o que é. Apenas o que é. Sem quês, nem porquês.

Sem eira nem beira.

Do “É” e pronto.

Do oco é que vem o tudo.

A mão que toca. Certa. Reta. Forte... Que faz o inesperado.

A mesma mão que acolhe no abraço profundo, do pós, do depois, do posterior.

Do que parece nada, mas é tudo.

Da calma no momento da agonia. Do afago dentro da dor.

Do olhar calado. Gemido perfeito que concorda. Que ouve. Que espera.

Do acalanto.

No silêncio da boa hora eu fiquei. Junto. Quente. Fiquei forte até.

Uma ode ao silêncio, à calma, à paz.

Uma ode a quem é. Mesmo sem querer ser.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Opaco, borrado, fosco.

Dormi errado, sono duro, pesado, estranho, sabe?

Quem trabalha à noite e chega de manhã, perde a cor do dia.

A cor da manhã fica sem cor quando a gente chega junto. Junto das cores.

Num momento, tudo é preto. Depois as cores aparecem, mas a gente não vê, quando os olhos estão acostumados a ver o preto, o nada. A gente não vê o claro, o dia.

Hoje não vi o dia.

E olha que tava colorido!

Tava normal, gente pra lá, pra cá. Ninguém observava as cores, mas elas estavam lá. Menos pra mim. Eu que vinha do escuro, da penumbra, da sombra feito gatuno.

Não vi as cores.

Agora a tarde, já é tarde. As cores da tarde são mais fracas, já são cores misturadas ao cinza, cinza do dia, da sujeira, ou cinza da noite que chega?

Perdi a cor do dia. Sempre perco, aliás. Quantas mais vou perder?

A noite vem chegando, agora sim reconheço tudo. Reconheço o cinza, o marinho, o preto. Às vezes preto fosco, às vezes brilhante, depende do dia, da noite.

Hábitos noturnos. Olhos noturnos. Sinto falta das cores vivas. Se eu vivesse em Las Vegas pelo menos.


No outdoor luminoso a vida a mentir. Nenhuma estrela mais perto dos olhos. Ninguém.
Ecos de um rádio antigo eu pendo ouvir
...”

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O dom de ser chato.

Viu? Era só isso, sem mais, nem menos. É isso!

O resto é o povo quem pinta. O resto era você querendo ver mais além.

Mas era só querer, não tinha mais nada além.

É isso, pronto, acabou, fim de papo, zero, nada, vazio, oco, isso tudo aí.

Está gostando disso tudo pouco? É pouco sim, mas é tudo.

Sé é tudo pode ser pouco né?

Meu tudo é pouco. É sim, eu sei.

Meu pouco é raso, frio, lento, isso tudo aí, que é pouco mesmo.

Não vou dizer que...
Nem pensar em...
Nem esperar por...

Não vou.

Vou ficar aqui terminando o já começado. Pensar naquele limite meu de pensamento e esperar, o suficiente pra me satisfazer.

Hoje estou bem, leve. Aquele peso foi embora, por isso estou feliz assim.



Perceber aquilo que se tem de bom no viver é um dom, daqui não, eu vivo a vida na ilusão entre o chão e os ares, vou sonhando em outros ares”.