Levantei a cabeça, tava tudo igual, abaixei-a novamente e segui. Os óculos estavam meio sujos, dificultando a visão, preferi não limpar, andei assim, mesmo sem ver direito, certas horas a visão não faz falta, só o ouvir era o bastante. Sentei e fiquei ouvindo, fechei os olhos, cruzei as pernas e ouvi o som, o som de um monte de coisa.
Mas pensei: Que som é esse que só eu ouço e gosto?
Não sei!
Então fui... Cheguei num ponto mais alto. Observei um pássaro brincando com outro, ou será outra? Ou era uma fêmea dançando pro seu macho. Sei lá! Eram dois pássaros numa dança, sexy! Sim era sexy, pelo menos eu achei! Um entrelace perfeito, em certos momentos às asas se uniam, pareciam uma só. Beijavam-se, se olhavam, então, notaram meu interesse e voaram, envergonhados. Sumiram. Senti-me estranho, invadindo àquela privacidade tão pequena.
Desci. Abaixei, me encolhi. (poderia ser ilusão, afinal os óculos estavam sujos).
Ali debaixo, observei as grandezas das coisas. Tudo ficou grande depois que fiquei pequeno (óbvio como diz a música). No mundo dos pequenos fui pisado, uma, duas, três, pra sempre de vezes. Quando a gente é pequeno agente é pisado.
Quando a gente é grande, a gente invade a privacidade dos outros.
Levantei a cabeça novamente, fui eu, continuei com os óculos sujos, só ouvindo.
Nunca mais subi, nunca mais me encolhi, sigo no meu passo, na minha altura, no meu poder. Ouvindo.
Com os ouvidos a gente vê coisas diferentes.
"Com os ouvidos a gente vê coisas diferentes."
ResponderExcluiradorei isso.
L.
cara, muiiito lindo!
ResponderExcluiradorei mesmo, principalmente o final.
legal mesmo
:)
Oi,
ResponderExcluirNem é preciso dizer que adorei seus escritos de hoje.
Me lembrou "Histórias de Gulliver" em que ele se torna pequeno ou grande, dependendo da situação. Seus escritos tem uma grandeza que vc não tem ideia.
bj