quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Da parede à urna.



Olhei ali pra parede e vi o chapéu pendurado. Chapéu de cangaceiro. Chapéu que lembrou às glórias do povo seco, da seca.

Chapéu que me lembrou da batalha do Jenipapo, da luta para expulsar os portugueses da Bahia, na época da Independência, fatos lidos recentemente no livro 1822.

Poxa! Tão perto de mim, aqui em casa na parede, uma lembrança de uma história tão forte e bonita. Como a história dos pescadores que, com suas pequenas canoas, renderam um navio de guerra Português.

Alguns fatos nossos, do nosso povo, são desconhecidos né? Povo sem memória. Culpa nossa ou de quem nos ensina?

Por que a gente conhece a Revolução Francesa e não sabemos quase nada da NOSSA independência?

Por que a gente conhece a batalha de Waterloo e nada sabemos da batalha nas margens do Rio Jenipapo?

Na parede aqui de casa, o chapéu descansa em silêncio. Percebo que ele quer contar algumas coisas, mas eu ignoro. Aprendi assim. Ignorar. Meu pai, nascido no sertão também desconhecia a tal batalha nordestina. O desembarque na Normandia ele conhece. Ele também, ou seja, a coisa vem lá de trás. Não é culpa das gerações recentes.

Como nós, brasileiros, não temos memória para nossas coisas, dia 03 de Outubro será uma festa daquelas. Festa “inédita”. Dia de votar, colocar nossa roupa de Domingo, decorar uns números qualquer e seguir o rumo cívico. Ninguém se lembra nem lembrará das promessas feitas e não cumpridas. Ninguém se lembra da batalha do Jenipapo. Ninguém se lembra.

Vamos votar e esquecer.
Vamos lembrar do dia “D”, do Napoleão. Do Hitler. Vamos esquecer o PT, o PSDB e o DEM.

O chapéu agora me olha dali e ri. Sabe que estou falando dele. Eu olho pra lá e digo com meus olhos:

“Ó! Foi por você”.

domingo, 26 de setembro de 2010

Grande menino

No seu mundo de cobertor! Mundo grande do grande menino.

Mundos.
Robôs.
Mares.
Montanhas.

No mundo do grande menino não tem gente. “Gente é má” diz ele.

Nas profundezas da coberta ele vive seu mundo diferente.

Segue no seu passo, no seu tempo, tempo que passa sem ele perceber.

Ali, naquele imenso pequeno mundo não existe dor. Morte. Raiva. Coisas de gente.

No grande mundo, todos se conhecem, se ajudam e nunca morrem.

Ele não entende porque às coisas tem de ter um fim.

“pra que acabar?”

Quando anoitece a saga do grande mundo recomeça, ventos, vulcões, vivem em harmonia com crianças, robôs, dragões e bonecos cabeça-de-batata.

O menino não entende porque os adultos (gente chata que só gosta da morte) não brincam com ele, se brincar é a coisa mais importante do mundo.

Papai sempre fala em dinheiro.
Mamãe sempre grita, fala do tempo, das contas e da TV.

O grande menino se incomoda, sofre. Esse mundo pequeno não é para ele. Por isso se refugia no grande mundo, lá ninguém conhece essas palavras que são tão faladas no mundo pequeno, Dinheiro, Conta, Morte, TV.

No grande mundo não tem TV. As pessoas se olham. Não perdem seu tempo olhando àquilo.

Pai! Vamos jogar bola?
Mãe! Senta aqui na cama, vem ver o que eu fiz!

Ninguém liga para o grande mundo, só o grande menino, talvez só pessoas grandes possa entender o real significado daquilo.

Não tem tempo no grande mundo, por isso o grande menino levanta de madrugada e caminha nas montanhas.

Pai briga.
Mãe reclama.

O menino pensa: será aquilo, a tal morte, não poder viver?

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Passeiozinho.

Tomei aquele copo de água gelada, após o café-com-leite quente e doce, adoçado com adoçante.

O dente doeu, sensibilidade à flor dos dentes.

Dei aquele tapa no cabelo, aquela passada de mão na franja pra deitar a danada.

Passei a camisa nos óculos, camisa suja limpou às lentes.

Fui...

Não sei pra onde. Fui por ali, seguindo o intuito de que tudo seria melhor.

Parado no semáforo o povo atravessando, lembrei dos Zé’s, Zé que deixa Maria em casa, Zé que sai cedo, passa no boteco, joga no bixo, toma um gole, sai apressado, pega o ônibus, motorista conterrâneo, fala do Corinthians, fica em pé, lata de sardinha, sardinha da bóia esfria, desce no ponto depois do seu, reboca a obra, prédio levanta, Zé volta pra casa, Maria dorme, Zé cutuca, Maria reclama, Zé dorme.

Semáforo aberto.

Sigo...

Penso da vida abençoada de quem não tem fato marcante pra contar. Penso na minha vida de estrada em linha reta. Meio sem curvas, bifurcações e tal. Será benção? Monotonia?

Se cortarmos o caminho pela trilha de terra batida que tem ali na frente?

Tenho medo e você?

Liguei a seta... Mas com seta é sem graça, avisar que vai sair da estrada não tem sentido algum, o legal é sair sem avisar, deixar quem vem atrás passar direto sem perceber nada.

Assim é legal!

E o Zé? Que não tem seta, não tem nada?
E a Maria que não tem estrada, nem bifurcação?

E eu? E eu?

Passei da estradinha de terra, desliguei à seta, reduzi na lombada, reduzi no radar, reduzi na faixa de pedestre, reduzi no cruzamento, reduzi...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mudanças

Nascido aos vinte oito dias do décimo mês do ano de mil novecentos e setenta e oito, aos trinta e cinco minutos da quinta hora deste dia.

Manhã chuvosa, trovejante. Como na música do Renatão, “Sou metal, raio, relâmpago e trovão”.

Vim ao mundo na cidade de São Paulo, mais precisamente na Zona Norte da capital paulista. Filho de um garçom e de uma dona de casa, que naquela época não sonhava em vender Natura e Avon, e De Millus e Tupperware e chapeado e Hinnode e tais e afins e etc’s. Era apenas dona de casa e mãe do meu irmão mais velho.

Papai garçom, dormia de dia e trabalhava a noite.

Eu chorava.
Meu irmão tossia.
Minha mãe se desesperava e papai... Servia.

Íamos levando assim, desse jeito.

Deixamos a capital e viemos ao litoral. Mais úmido aqui né? E quente também.

Fiz meu primeiro ano de vida aqui no litoral, na mesma casa em que moro hoje. Ou seja? No décimo mês, do ano de mil novecentos e setenta e nove (da era cristã) eu já morava nessa mesma casa. Tempo faz. Bastante, aliás.

Percebem porque quero mudar?

Quero mudar. Comecei pelo cabelo, que cortei ontem e depois de... uns 15 anos. Não passei a maquina do lado. Foi na tesoura, para o desespero da cabeleireira que é acostumada a passar a máquina do lado há 15 anos. Corte no mesmo lugar.

Quando falei, “deixa baixinho, mas na tesoura” ela quase teve um troço (preguiça talvez).

Mudei ou não mudei? Mudei sim pô!

E vou mudar mais. Hoje (22/09) é aniversário do papai, sessenta e quatro anos, ele também muda. Tudo muda né?

Mês que vem mudarei mais, ficarei um ano mais velho.

Mudanças e mudanças. Chegou à hora mesmo, estou estagnado.

Vamos ver onde elas me levarão.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Vamos tentando

Como numa página amarela, com letras belas, porém, incompreensíveis.

Aquela tarde que foi bonita, que foi certa. Daquele dia que tudo deu errado de início, mas que no desenrolar das coisas se mostrou perfeito.

Dia mal acordado.
Noite mal dormida.
Manhã daquelas chatas.

Tarde que muda. Tarde nova, recente. Tarde bonita.

Dia-a-dia sendo assim. Começa dum jeito, termina doutro.

Arrumei às coisas aqui. Cada coisa em seu lugar. Pensamentos em ordem.

E por aí? Tudo do mesmo jeito? As coisas fora do lugar?

Que tal tentarmos?

Vamos andar pros lados de lá. Vamos andar e andar!

Vamos mexer, bagunçar, vamos escrever.

Desenhar letras naquelas páginas velhas. Umas ainda estão em branco. Vamos riscar e arriscar.

Eu topo!
E você?

Trouxe lápis e borracha, no caso de querermos apagar.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ano que vem...

Saldo negativo. Poupança raspada. Lambreta suja e sempre na reserva.

Carreira estagnada.

Faculdade nos momentos finais, algumas prestações e pego meu diploma. Será esta a saída?

Será o diploma a fuga para vitória?

Quero sair daqui.

Quero mudar. Quero partir pra algum lugar.

Será que com o diploma na mão conseguirei comprar o tão sonhado Quarto e sala?

Será que me mudarei pra cidade de Oz ano que vem?

O que será do ano que vem?

Aquele carro!
Aquele APequeno!
Aquela companheira (que já É ideal).

Será, diploma, que você irá me dar isso tudo?

Não sei se o diploma irá me dar algo, mas com certeza terei mais grana depois de pagar por ele, isso sim.

Ano que vem eu mudo.

Saio daqui, vou pra lá. Ano que vem, ano de lá.

É! Farei como todo mundo, ano que vem eu mudo. Ano que vem terei mais grana. Ano que vem eu caso.

Meu único medo. Ano que vem chegará?

Sei lá!

O povo da minha idade já casou. Comprou casa. Carro. Filho. (Comprou filho?).

Eu não. Não comprei. Nem filho, nem nada.

Ano que vem eu compro. Ano que vem.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Os outros são os outros.

Eles e Elas. Sempre assim que as coisas se apresentam!

Ou eles, ou elas.

Eu? Não, nunca.
Você? Jamais, é pecado.

Vamos nós, assim, vivendo entre eles e elas.

São legais eles né?
São sim! Diferentes.

Vamos por aqui? O que acha?
Ah! Não sei, vamos por ali, junto deles.

Junto deles e delas.

Deles esperamos o nada.
Delas queremos o tudo.

Vamos nós assim... Sempre deles, por elas, nunca sendo nós.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Serei breve pra não atrapalhar o feriado.

Ó... Rapidinho...

Uns vivem numa concha só deles...

... Outros saem da concha e entram noutras... E outras e vivem nas conchas dos outros.

Outros...

Saem da concha, mas a levam junto, mostram-na aos outros. Sentem orgulho de suas conchas, compartilham.

Cada qual, com seus cada quais.

Assim somos nós. Complexos, chatos e tais.

Ponto final.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Com elas ou sem elas?

Elas são poderosas, muito, dependendo do caso, podem até matar.

Aquele clichê máximo, aquela velha história que vovó sempre conta... “Deus nos deu dois ouvidos, dois olhos e UMA boca..” Sabem? É disso que to falando.

Das palavras ou do poder delas. Da falta delas também entra no contexto.

Às vezes, felizes, eufóricos, ansiosos, a gente fala, fala e fala, gasta todo arsenal existente... Mas tem um porém. Quem está ali do lado, quer ouvir tudo isso? Está preparado pra isso? Ou melhor, mudando a coisa, aquele que ali está.. Quer falar também! Você está preparado para ouvir?

Ou só quer falar, falar e falar?

Palavras.

Um ponto, uma vírgula, um espaço mais logo, um “hã?’, um “quê”, podem mudar, mudam tudo.

Cuidado ao falar.

E se tentarmos fazer como vovó já dizia?

Ouvir mais...
Ver mais...
Falar menos...

Ai, essas palavras, a falta delas causa tanto mal, o mesmo mal que nos causa o excesso delas...

Qual o ponto ideal?
Qual o parâmetro?

Não falar demais? Não calar demais?

Palavras...

Variando.

TO LA TAMBÉM...


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... A QUEM INTERESSAR.