domingo, 25 de março de 2012

O Velho e eu

Bata palmas sim e o faça de olhos abertos. Veja a quem você aplaude. Só, meu caro, não se esqueça que para ser aplaudido não basta aplaudir. Ser aplaudido requer outra coisa, se faz necessário ter um tato a mais. Dizia ele.

Eu, com o copo meio vazio, a cabeça meio cheia, e a alma querendo distância de mim, pensei naquelas palavras, fixei no velho olhar do homem velho. Não pisquei.

Ele continuou, dizendo-me para ser franco, ficar atento deixar meus propósitos pra lá.

Essa parte eu não compreendi. Tentei chamar minha alma:

“Calma alma minha, calminha, você tem muito que aprender”

Neste momento a Jukebox poderia soltar esta, mas não soltou. Fiquei olhando ao redor.

Eu, o velho, os copos e a alma. Ela, a alma, fingia ouvir, esgueirava-se rumo à porta. Eu vendo aquela cena chorava por dentro.

O velho falava.
Eu bebia.
A Alma saltava.

Senti uma paz estranha, meio quente, vinha de baixo. Com medo olhei pra cima, como se viesse de lá.

O velho, rapidamente tocou em minha mão e reprovou meu ato: Tsc-Tsc! Apontou-me o chão, como quem diz: É de lá que vem.

Fui forte! Continuei olhando pra cima. Logo o calor foi embora, a alma ficou, o velho calou... Pedi mais uma e sorri.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Natimorto.

Cedo pra acordar, gosto amargo de engolir, dor demais para pensar.

Assim começa tudo.

Será que vai ligar?

Se ligar eu vou correr? Praí ... Te ver!

Sei não!

O café sem gosto desce rasgando, a linha do piso está torta, quem fez esta casa?

É Natal então? Que diabo é isso?

Que papelada é essa jogada aqui?

Quero mais umas horas de ano velho, curtir o que foi bom. Quero essa chuva molhando aqui.

A mistura de rojão, com buzina não está fazendo bem. Tão mal quanto aquela outra mistura maldita.

Nascimento amargo esse.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Na mesma calçada.

Estando só posso ficar olhando a parede que agora tem cor. Gosto da cor.



A menina que anda só na rua, atravessa fora da faixa, desatenção pura. Logo atrás outras meninas fazem o mesmo trajeto, uma desatentas, outras atentas cometendo o erro conscientemente.

Na mesma calçada seguem os rapazes, uns vão daqui pra lá, outros de lá pra cá. Muitos deles atravessam fora da faixa, a maioria aguarda o semáforo.

Todos conseguem atravessar a rua.

A menina segue só.
Os meninos seguem.

Ela termina sua Coca-cola e joga a latinha na sarjeta, um menino a amassa, pisando com força, outro a chuta pro meio da rua, um terceiro a recolhe, correndo todos os riscos da via movimentada, e a coloca no lixo.

A menina continua seu trajeto, certa de onde ir.

O grupo masculino pára para olhar um grupo do sexo oposto que vem no contra fluxo.

A menina que seguiu se perdeu por aí. Não se alcança mais pelos juvenis.

Furacão passado, a vida volta ao normal.

Meninos vão, uns chutando, outros amassando e outros recolhendo. Juntos vão.

Menina foi, está longe do seu mundo

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O senhor da guerra não gosta de criança.

Olha que engraçado, você falando aquilo e eu ouvindo isso: “nosso dia vai chegar”.

Será que teremos, nós, esse tal dia nosso? Será que teremos vez? Às vezes me pego pensando nisso, sabia?

Será que é pra ser? Porque, como dizem por aí, o que tiver de ser será!

Que droga!

Odeio me sentir assim, amarrado, impotente.


Dá uma dor aqui dentro quando penso em você pensando. O que será que se passa aí?


“É o mal que a água faz quando se afoga” Será que é a sopa? O café? O chá?

O que será? (que me dá que me bole por dentro)

Dá uma doída sabia? Ahamm... Uma dor, meio de dó, de medo, meio de não sei o quê!

Cada uma das suas idas e voltas leva meu coração junto. Ora você sobe, ora desce, quando sobe me leva junto e me larga lá no alto sem pára-quedas, quando desce me puxa repentinamente, sem tempo de tomar fôlego, me afogo, engasgo, fico todo roxo!

Loucura essa loucura toda!

Não sei mais o que adiantará, no nosso caso. Não sei brincar assim, mas continuo brincando, tá?

Você sabe que pra essas coisas de brincar eu sou bom, sempre sou o último a cansar.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Meu martelo e eu.

Sei lá o que acontece... Parece um buraco isso aqui. É como a árvore que tem ali... Ela e sua casca dura... Que fica mole, descasca, fica a ferida, a fenda. Às vezes se cura... às vezes não. Fica a marca!

Tentei pregar com o martelo, mas meu martelo velho não deixou, ou era a parede que não prestava... Ou quem sabe a culpa era do prego? Prego velho, torto que fez o martelo escorregar e acertar meu dedo, unha roxa!

Dor dos infernos.

Sei lá o que acontece!

Será culpa minha? Sujeito chato sou eu que não acho nada engraçado... Já disseram isso.

Queria a cura. Queria tapar a fenda da árvore, não gosto do jorro da seiva. Não gosto do martelo velho, do prego torto, da parede fofa.

O que vem por aí? Deve ser o tal inferno astral que eu disse não acreditar, é! deve ser!

Olhei pra cima esta noite meio mal dormida, vi uma luz pra lá, parece que falaram comigo, queriam me mostrar algo, mas eu durmo de toca que não enxerguei muita coisa não.

Engraçado! Não vejo a melancia na minha frente, só percebo suas ranhuras, suas entranhas... Não vejo o óbvio, só percebo o intrínseco, vejo até o que não existe.

Quando vou ver direito?

Quando volver? Pra esquerda? Pra direita? Tipo cabra cega?

Sempre gostei de brincar de cabra cega.

Ta quente!!!
Ta frio!!!

Estou longe (frio) de estancar a seiva da fenda da árvore que não se cura. Estou frio de conseguir pregar o prego torto na parede fofa com meu martelo velho.

Meio farto!



quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Passeio.

Lá no plano alto a gente se sente meio diferente, sei lá, não sei se é a secura do clima, ou a falta de fio, ou a falta de calçada, ou o amor dos nossos, ou as cigarras gritando, ou se é tudo coisa da nossa cabeça.

Não sei o que é! Só sei que me sinto diferente.

A gente anda pra lá, pra cá e bebe, e anda, e come, e dorme, e vê, e ouve... Tudo muito diferente, pra mim... Aqui, no plano baixo, no nível do mar, faço tudo isso também como lá, mas aqui não é igual, lá parece ser mais legal.

E a gente que achava que tudo era assim. Não, não é!

Por que a nuvem tem buraco?
Por que aquela estrela nos segue?

Nuvem parece algodão, porém, quando a gente passa nela tudo treme, então, não é fofinha como parece, é dura que nem pedra.

Nuvem de pedra.

Por falar em pedra, a cidade projetada e feita de pedra não é dura como a nuvem, só é dura entre dez da manhã e três da tarde, fica um sol duro na cabeça da gente... Depois das três tudo fica mais suave e quando a noite chega a suavidade alcança o ápice.

Que coisa, né?

A estrela veio junto, será que ela sempre faz isso? Acompanha os outros, fica voando, indo e voltando?

Que bonita, né?

É bom cumprir mais uma etapa do trajeto, estar no rumo.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

V.C (velocidade constante)

Quando você for eu vou. Iremos nós, pra lá!

Agora, nos dias de hoje, atuais, sigo ali meio na frente, um passo e meio de distância, às vezes meio passo. Sigo.

Você me segue. Vem toda decidida, como quem sabe que será bom, e será, né?

Né!

Tem dia que olho pra trás, te vejo, estendo à mão e te trago. Tem dia não! Nestes eu não olho pra trás, apenas ando, passo reto, coluna ereta, óculos limpos, certo de que você está logo atrás, naqueles mesmos meio, ou um passo de distância.

Coloquei uma musiquinha legal, ouve daí?

É uma música de um dos capítulos finais da série assistida com afinco, sem falhas, acompanhada detalhe por detalhe, como a nossa caminhada. Detalhada, certa, junta.

No exato momento em que a tal música diz: “então me guia para longe, para aquele campo aberto, desligue a ignição e viaje” eu o faço, guio, seta desligada no intuito de ir reto, velocidade constante, 5ª marcha engatada.

Vou! Vamos!